Já faz alguns anos que tenho me preocupado com a situação da Igreja hoje. Lembro-me de que, quando era criança, dizer-se crente era algo extremamente significante; éramos exemplo de honestidade, de seriedade, de pessoas comprometidas com seu Deus e obedientes à Sua palavra. Só assumíamos realmente este título quando estávamos decididos a enfrentar todo tipo de adversidade – gozações, preconceitos, perseguições etc. Éramos poucos, mas éramos fortes.
Atualmente, porém, a situação mudou. O último censo do IBGE atestou nosso crescimento numérico (na faixa de 85% na última década!), mas (felizmente talvez) não foi capaz de avaliar nossa decadência qualitativa. Hoje, dizer-se evangélico, ‘gospel’, ou qualquer outro termo tornou-se comum. Estamos na moda! Programas de TV, músicas, shows etc, tudo agora está a nossa disposição, propagando a nossa fé! E eu me pergunto: será?
Na época em que nos chamávamos de ‘os bíblias’, o povo do livro da capa preta, os crentes chatos... – éramos muito mais determinados a falar ao mundo a mensagem da cruz! Pregávamos com convicção que Jesus era o único caminho que levava a Deus! Não havia meio termo, não tinha a menor possibilidade de considerarmos outra forma de sermos cristãos sem que fôssemos radicais, como nosso Salvador foi. Jesus amava as pessoas, mas falava-lhes a verdade; Ele fazia milagres enquanto pregava o arrependimento; Ele as abençoava no mesmo instante em que as convidava a uma decisão comprometida. Se Ele agiu desse modo, por que nós hoje estamos sendo tão condescendentes? Por que temos aberto mão de valores essenciais para sermos mais agradáveis? Por que pregamos o que as pessoas querem ouvir ao invés do que elas precisam ouvir? Porque talvez nós mesmos prefiramos ouvir sobre as promessas do que sobre a cruz!
A triste realidade evangélica hoje é que temos negligenciado a cruz de Cristo. Nossos púlpitos estão repletos de mensagens sobre bênçãos, prosperidade, milagres e toda sorte de benesses que podem afluir de Deus para o homem. Nossos cânticos não são diferentes – suas letras expressam nosso ardente desejo pelas bênçãos de Deus e não pelo Deus das bênçãos. Pedimos sempre, agradecemos raramente. Sempre nós! Sempre o homem no centro e o Senhor como coadjuvante. E, se nossos cultos são assim, é porque nossa vida é assim. Criticamos os 09 leprosos porque foram celebrar sua cura e elogiamos o que voltou para agradecer. Mas, com quem nos parecemos de verdade? Nas dificuldades, oramos; nas alegrias, oramos? Somos parte da multidão que via os milagres e ouvia os sermões, ou somos como João, que não temeu a morte e permaneceu aos pés da cruz?
O fato é: queremos ver as mãos do Deus Criador, mas não queremos ver as mãos do Deus Salvador! Por quê? Porque na criação olhamos ao redor e nos deslumbramos com o que fora feito, mas na cruz só conseguimos olhar pra nós mesmos! No Éden, nos distraímos e deixamos a presença do Criador para gozar da criação; mas na cruz, Suas mãos estão muito perto de Seus olhos. Não há como fugir deles! E o que eles nos dizem? ‘A culpa é sua’? Não! Eles nos dizem: Por amor a você!!!
Cibele Guerra
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